30 abril 2011

E se... o golpe de 1964 não tivesse acontecido?

Uma coisa é certa: sem as duas décadas de governo militar, de 1964 a 1985, um Brasil completamente diferente teria se desenvolvido. Há quem diga que as mudanças seriam para pior. “Os revolucionários salvaram o Brasil de se tornar uma grande Cuba, amargando o destino ruim dos países-satélites da antiga União Soviética”, diz o coronel Manuel Cambeses Júnior, da Escola Superior de Guerra. Mas mesmo quem não apoiou o golpe reconhece que, em 1964, o Brasil vivia um momento político tenso e que a esquerda também preparava uma tomada do poder. “Havia dois golpes em marcha. O de Jango obrigaria o Congresso a aprovar um pacote de reformas e mudanças na sucessão presidencial”, escreveu o jornalista Elio Gaspari no livro A Ditadura Envergonhada.
Mas há uma corrente de historiadores que acredita que o país estaria bem mais avançado hoje se o governo de João Goulart não fosse interrompido. As reformas a que Elio Gaspari se refere são as chamadas reformas de base – como a agrária e a educacional . “Se colocadas em prática, elas poderiam ter alavancado o desenvolvimento do país”, diz o historiador Joel Rufino dos Santos, da UFRJ.
Outro argumento de quem defende que o Brasil estaria mais avançado hoje é o insucesso da política econômica implantada pelos militares. Apoiada em empréstimos estrangeiros que financiavam obras gigantes como a hidrelétrica de Itaipu, a economia nacional viveu um período de bonança conhecido como “milagre econômico”. Mas, assim como as obras, os gastos também eram monumentais e nossa dívida externa cresceu 1 500% entre 1964 e 1978. Jango, ao contrário, queria investir na criação de uma indústria nacionalista, espalhada pelo país e protecionista (o Estado teria maior presença nos rumos da economia). “Ele teria criado condições para manter investimentos no Brasil e evitar o uso de mão-de-obra barata”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da USP.

Sem tanta luta

Sem a ditadura militar, o Brasil poderia ter menos problemas
Mudanças na cultura
Nossa produção cultural seria bem diferente. De um lado, não teríamos algumas das melhores músicas escritas durante a ditadura, como forma de protesto. Por outro, muitos artistas tiveram sua produção tolhida pela repressão. Geraldo Vandré, por exemplo, autor de “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores” (que se tornou hino contra a ditadura), deixou o país e depois se afastou dos palcos. Sem o golpe, é possível que ele tivesse uma carreira mais prolífica
Brasil mais cabeça
Se a reforma educacional de Jango tivesse saído como planejada, nós teríamos índices de analfabetismo baixíssimos e uma universidade pública com investimentos sérios em pesquisas de ponta. “Poderíamos ser a vanguarda nas pesquisas científicas e ter até ganhadores do Prêmio Nobel”, diz Joel Rufino dos Santos
Moradia mais digna
Um dos grandes responsáveis pelo inchaço das grandes cidades foi o êxodo rural. Com a reforma agrária, esse problema seria atenuado. “O aspecto principal desse crescimento desordenado é a favelização”, diz Joel Rufino dos Santos. Teríamos, então, cidades menos miseráveis
Movimento Sem Tema
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra simplesmente não existiria. Pessoas que hoje dedicam sua vida à luta pela reforma agrária teriam uma vida bem diferente. É o caso de João Pedro Stédile, atual ideólogo do MST. Com a reforma agrária implementada, é possível que ele se dedicasse às pesquisas em economia, sua área de formação
Sem energia nuclear
Hoje, cerca de 40% da produção de eletricidade do estado do Rio de Janeiro sai da usina nuclear Angra I, cuja construção foi iniciada em 1972, durante o governo militar. O desenvolvimento da tecnologia foi iniciativa dos militares, em parceria com a Alemanha. Sem eles no poder, é bem possível ainda não tivéssemos dado nenhum passo nessa área
Muitas vozes
Com uma indústria mais forte e menos êxodo rural, todas as regiões do país se desenvolveriam. Assim, a grande imprensa não estaria concentrada no Sudeste, como hoje. Sem o golpe – e portanto com 20 anos a mais de democracia – é possível que tivéssemos uma diversificação maior de vozes na imprensa, com publicações de diferentes inclinações políticas

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