Em matéria de feijão, o brasileiro é quase unânime – dominando 71% da produção, o tipo conhecido como carioca é o melhor amigo do nosso arroz. O que quase ninguém sabe é que o feijão mais popular do país do arroz-com-feijão só existe há 30 anos. O carioquinha – que recebeu esse nome por causa das suas listras, que lembram o calçadão de Copacabana – foi desenvolvido a partir de mutações e cruzamentos de outras variedades de feijão marrom, como o jalo e o mulatinho. Esse feijão turbinado produz o dobro das variedades tradicionais e, com preço mais acessível, dominou todo o país.
Todo? Não, duas aldeias ainda resistem... No Rio Grande do Sul e, ironicamente, no Rio de Janeiro, o “carioquinha” não tem vez. Segundo o historiador Carlos Antunes, da Universidade Federal do Paraná, a origem dessa diferença é dos tempos do Brasil colonial. Para ele, o consumo de feijão no Sul e Sudeste do Brasil seguiu o caminho de dois tipos de viajante: os tropeiros e os bandeirantes. Como esses exploradores iam fundando cidades por onde passavam, cada região acabou herdando o gosto de seu colonizador.
Os tropeiros, mercadores de produtos da agropecuária gaúcha, consumiam feijão-preto sem caldo e com farinha de mandioca, lingüiça e toucinho, para facilitar o transporte e conservação. Já os paulistas, goianos e mato-grossenses foram influenciados pelos bandeirantes, que levavam feijão marrom e com caldo em farnéis, bolsas de couro impermeáveis. O Rio de Janeiro aderiu ao feijão-preto quando a feijoada foi inventada, no século 19, e acabou abolindo todos os outros tipos da leguminosa.
A região de Belém do Pará tem a história mais curiosa: o gosto regional por feijão-manteiguinha e fradão – variantes do feijão americano de chili – foi introduzido pelos funcionários das indústrias Ford, que se instalaram lá no começo do século 20 para a extração de borracha.
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