A cada dia que passa este poema de Rui Barbosa, escrito em 1914, fica mais atual e realista, pense sobre isso e mude o que estiver ao seu alcance!
Sinto vergonha de mim
Sinto vergonha de mim
Sinto vergonha de mim... por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado de varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim... por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim... pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho da vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição | de sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim... pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha importância, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro ! “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas maus dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. |
Enviado por: Vicente Moreira
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